quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dieta balanceada de TV para crianças

Dieta balanceada de TV para crianças
A TV brasileira completa e comemora 60 anos no Brasil em setembro de 2010.
Indiscutível a importância desse meio de comunicação como difusor de informações, disseminador da cultura de massa, balizador de condutas e como meio de entretenimento para 9 entre 10 domicílios brasileiros. No entanto a TV continua sendo objeto de polêmica, especialmente quanto a possibilidade de que seus conteúdos possam despertar comportamentos violentos, erotizados, incongruentes com valores sociais ou preceitos éticos. Os debates tornam-se ainda mais acalorados quando concentram-se sobre os possíveis efeitos da programação televisiva sobre a audiência infantil. Educadores e organizações como o Instituto Alana sugerem que pais e responsáveis estejam sempre próximos das crianças para ajudá-las a escolher de maneira criteirosa os produtos e serviços que consomem. Programação de TV incluída no pacote.
Uma pesquisa conduzida em 2008 pela psicóloga inglesa Tanya Byron em parceria com a empresa Freeview trouxe insights interessantes sobre os possíveis efeitos da TV no comportamento das crianças. O estudo denominado “Freeview Viewtrition” teve como objetivo conhecer a opinião de pais de crianças entre 2 e 11 anos sobre dois grandes temas: “como as crianças assistem TV” e “o que os pais pensam sobre a forma como as crianças assistem TV”.
A pesquisa foi realizada em duas fases. A primeira, quantitativa, resultou da aplicação de um survey online com 1.880 pais do Reino Unido. Dentre esses foram selecionadas 20 mães que participaram de uma discussão em grupo online para aprofundar a percepção dos temas discutidos no survey. A análise foi completada com dados secundários (desk research).
Os resultados apontaram que os pais se sentem confusos quanto aos efeitos que a TV pode ter sobre as crianças e tendem a avalia-la de maneira ambígua, ou seja, acreditam que ela proporcione educação e entretenimento, mas também expressaram preocupação quanto a possíveis efeitos negativos da programação. Para 80% dos participantes a TV contribuiria para a expansão da imaginação, aumento do vocabulário, desenvolvimento de raciocínio numérico, entretenimento e relaxamento. No entanto, 67% dos pais acreditam que a TV poderia ter efeitos negativos sobre o comportamento das crianças (obesidade, deficit de atenção, hiperatividade, agressividade).
Os pesquisados reconheceram a importância de monitorar e gerenciar os conteúdos consumidos pelas crianças - limitar os horários e os programas, assistir a programas para checar o que está sendo assistido, gravar para as crianças programas de boa qualidade, assistir junto e discutir o conteúdo com as crianças, bloquear canais adultos. Nesse sentido, a tecnologia disponível no Reino Unido - Digital Television Recorders (DTRs) parece estar ajudando os pais a construirem uma relação saudável das crianças com a TV. Esse sistema que permite a gravação e seleção de programação é utilizado por 50% da amostra para disponibilizar programação de “boa qualidade”.
Segundo Tanya Byron, embora pesquisas indiquem efeitos negativos da TV à saúde física e mental, especialmente quando há excessiva exposição (p. ex: obesidade e hiperatividade) e contato com conteúdos inapropriados (p. ex: violência), não há evidências de que a TV seja o principal fator para desencadear distúrbios comportamentais, mas um fator secundário ou coadjuvante no caso de crianças que já exibem vulnerabilidades biológicas, psicológicas ou sociais.
Planejando uma dieta balanceada de TV para crianças
Para a psicóloga britânica é impossível ignorar que a TV faz parte do cotidiano e sugere a possibilidade de integrá-la na rotina das crianças, utilizando programação de “boa qualidade” como coadjuvante no processo educacional das crianças. Sugere então o que chamou de “dieta balanceada de TV”:
* Equilibre o tempo de TV com outras atividades saudáveis e enriquecedoras;
* Discuta com outros pais o valor relativo dos programas que as crianças assisitem;
* Escolha programas que complementem os interesses das crianças e que também possam desafiar o aprendizado;
* Determine o tempo para TV e deixe claro que assistir TV é um incentivo oferecido após outras tarefas importantes – estudar, ajudar em casa, brincar com amigos;
* TV é melhor apreciada e tem um maior impacto quando é assisitida de maneira compartilhada. Gravar programas e fazer uma pausa para discutir um assunto com as crianças pode ajudar nesse processo de compartilhamento;
* Use o conteúdo da TV para estimular outras atividades - leitura, brincar de teatro;
* Use a TV para despertar a curiosidade da criança e complemente a discussão sobre os temas com debates e idas à bibliotecas;
* Ajude a criança a fazer a ligação entre o que elas vêem na TV e o mundo real – culturas, tempo, geografia etc;
* Não deixe a TV no quarto de crianças com menos de 5 anos. Façam-nas assisitir com a família;
* Não deixe a TV ligada o tempo todo, faça do momento de ver TV um evento especial;
* Não deixe as crianças assistirem TV durante as refeições;
* A medida em que as crianças crescem escolha junto com elas as novas programações.
A proposta de Byron atenta para que os adultos – pais, responsáveis ou educadores – estejam presentes e disponíveis para interagir e criar oportunidades para que as crianças explorem os conteúdos televisivos apropriados à cada faixa etária, compartilhando conhecimentos e afetos que contribuirão definitivamente para formação da identidade e construção de referenciais e sistema de valores.
Para o acesso ao estudo completo acesse aqui

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pesquisar pode influir no comportamento de compra‭?

Pesquisadores de marketing americanos chegaram à conclusão de que quando se pergunta a uma pessoa sobre a‭ ‬intenção de compra‭ ‬de algum produto,‭ ‬o simples fato de ser questionada sobre sua intenção‭ ‬pode alavancar a compra deste item.‭ ‬Esse fenômeno foi denominado como‭ “‬mere measurement effect‭” ‬ou,‭ ‬numa tradução livre para o português,‭ “‬mero efeito da mensuração‭”‬.‭

Os professores Morwitz e Fitzsimons‭ são os responsáveis pelos principais trabalhos acadêmicos que descrevem experimentos‭ ‬sobre o‭ “‬mere measurement effect‭”‬.‭ ‬Em‭ ‬1993‭ ‬Vicki Morwitz,‭ ‬professora de marketing‭ ‬da NYU Stern,‭ ‬conduziu um estudo que demonstrou que o simples fato de se perguntar sobre a intenção de compra de um carro ou um computador pessoal pode aumentar a taxa de compra desses ítens.
Além desses achados,‭ ‬as pesquisas também demonstraram que mensurar‭ ‬a intenção de compra de uma determinada categoria de produto pode aumentar a probabilidade de ocorrência de uma primeira compra e,‭ ‬além disso,‭ ‬pode influenciar a escolha de uma determinada marca dessa categoria,‭ ‬especialmente das marcas com as quais o sujeito já tenha vivenciado previamente uma experiência positiva.‭ ‬O que os estudos indicam é que ao ser questionado o sujeito tende a desencadear mecanismos cognitivos que fazem emergir a consciência o repertório de experiências e informações sobre produtos e marcas da categoria em questão,‭ ‬o que estimularia a intenção de compra,‭ ‬especialmente quando se trata de bens de uso cotidiano como café,‭ ‬barras de chocolates e snacks.

Para além do território do consumo,‭ ‬outra pesquisa também testou o‭ “‬mere measurement effect‭”‬.‭ ‬O estudo do professor Anthony Greenwald da University of Washington concluiu que quando estudantes americanos são questionados sobre a intenção de votar numa eleição tornam-se mais dispostos a votar do que estudantes que não foram abordados para falar sobre suas intenções.‭

Ética e metodologia‭

O que esses experimentos trazem como perspectiva é que introduzir um tema para discussão pode eliciar comportamentos e,‭ ‬mais ainda,‭ ‬que estes comportamentos tendem a ser influenciados por escolhas ou experiências positivas anteriores.‭

No âmbito da pesquisa de marketing o‭ “‬mere measurement effect‭” ‬pode ser bastante profícuo para refletirmos sobre o quanto o ato de pesquisar pode,‭ ‬em si mesmo,‭ ‬gerar expectativas e influenciar‭ ‬escolhas de produtos e marcas.‭ ‬Ou seja,‭ ‬o momento da pesquisa pode ser,‭ ‬em si mesmo,‭ ‬o início de um processo de persuasão que não é um recurso bem vindo,‭ ‬entendendo que o objetivo da pesquisa não é fazer publicidade de produtos e marcas.‭ ‬O que não seria nem ético,‭ ‬tampouco eficaz.‭

Mais do que isso,‭ ‬o‭ “‬mere measurement effect‭” ‬abre a discussão sobre a necessidade de rigor científico no desenvolvimento dos instrumentos de coleta de dados,‭ ‬tais como questionários,‭ ‬roteiros para entrevistas ou discussões em grupo que podem ter efeito indutivo e comprometer significativamente os resultados de uma pesquisa.‭ ‬Um pré-teste do instrumento pode ajudar a evitar tais efeitos colaterais.