terça-feira, 14 de junho de 2011

Como construir uma farsa usando as redes sociais


A blogueira Amina Abdallah Arraf AL-Omari, a cidadã síria de 25 anos que publicava suas opiniões sobre sua sexualidade e sobre política na Síria no blog “A gay in Damascus” não existe. Trata-se de uma farsa.

Amina é uma fabulação de um cidadão americano, Tom MacMaster, estudante na Universidade de Edimburgo, que assumiu a autoria dos textos publicados no blog. Disse ter feito essa “narrativa ficcional” com “a melhor das intenções”, para chamar a atenção das pessoas para a situação da Síria. Desde fevereiro de 2011 ele vinha construindo uma mentira e enganando pessoas ao redor do mundo discorrendo opiniões e fazendo denúncias que mobilizaram a opinião pública.

Usando a persona Amina, o farsante se correspondeu com pessoas no mundo todo, criou comoção e levou blogueiros e ativistas no mundo todo a pedir a libertação de Amina quando seu pretenso primo divulgou na rede que ela teria sido presa por homens ligados ao presidente sírio. Para tornar sua personagem mais real, MacMaster usou fotos do rosto de uma mulher roubadas da página do Facebook de uma profissional de relações públicas. Até jornalistas de grandes veículos colaboraram na divulgação do pretenso seqüestro de Amina. Seus seguidores no Facebook e Twitter trabalharam arduamente para pedir sua libertação, o que fez do seu endereço no Twitter tornar-se um dos mais populares na ocasião.
O caso gerou indignação entre ativistas no Oriente Médio e a “iniciativa“ de MacMaster foi, de fato, um desserviço. Assim como na fábula de Esopo (Cry Wolf), ele agiu como o garoto que gritava que um lobo estava atacando suas ovelhas quando isso não era verdade. Seus gritos eram apenas um alarme falso que passou a não chamar mais a atenção dos aldeões, até o dia em que um lobo de verdade dizimou o rebanho. E de nada adiantaram os gritos de alerta do mentiroso.

Essa história nos alerta para alguns aspectos importantes:
1- Informações que circulam nas redes sociais não devem ser entendidas com verdades absolutas. O ambiente virtual como já dissemos em post anterior estimula e admite as fabulações. Lembre-se da frase que andou circulando há algum tempo atrás na rede: “ninguém é tão feliz como no Facebook, nem tão bonito como no Orkut...”
2- O trabalho do pesquisador qualitativo consiste em lapidar informações. Os conteúdos originados nas redes sociais devem ser entendidos como indícios e não fatos inquestionáveis. O monitoramento das redes sociais deveria ser articulado com diferentes fontes (triangulação de fontes) como entrevistas e outras técnicas consagradas para a coleta de dados.

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