terça-feira, 24 de março de 2009

Tendência 1: Como moraremos daqui em diante?

No final de 1999 fomos convidados pela Alternativa Editorial, especializada em publicações dirigidas ao setor moveleiro, para participar de um projeto que tinha como objetivo elaborar um volume especial sobre as tendências de comportamento de consumo no próximo milênio e que foi publicado em abril de 2000 com o nome de "Caminhos do III milênio". Para nós foi uma atividade bastante interessante, pois como pesquisadores e professores tínhamos reunido um conjunto vasto de informações que nos permitiram, naquela ocasião, elaborar 14 tendências sobre hábitos de consumo de produtos e serviços, moradia, relacionamento familiar e social, organização do trabalho, lazer, etc.

Nesses 9 anos retomamos com freqüência esse material para orientar nossas análises como pesquisadores de mercado e constamos que, salvo alguns detalhes tópicos, as tendências que apontamos como possibilidades foram se consolidando. Mas há uma dessas tendências que quero comentar, pois parece estar ocupando um espaço relativamente importante nas mídias e nos discursos do cotidiano: a maneira como moraremos e viveremos em nossas casas.

Em 2000 prognosticamos que – vai aqui o texto na íntegra - "o estilo "houser" deverá aumentar sua influência, ou seja, as pessoas vão se confinar mais ao espaço doméstico. Seja devido à violência urbana, a maior disponibilidade de equipamentos de lazer por preços mais acessíveis ou porque terão mais tempo livre. As pessoas devem transformar suas casas em espaços de lazer e convívio social".

Semana passada o jornal O Estado de São Paulo (Caderno Cidades - 17/03/2009) publicou matéria sobre condomínios que estão sendo criados para serem bairros privativos. Muitos deles estão sendo construídos em grandes terrenos que abrigavam antigas fábricas desativadas e reúnem num mesmo espaço prédios para moradia, escritórios, lojas, dezenas de opções de lazer, garantindo aos futuros moradores qualidade de vida, segurança, conveniência e comodidade. "Tudo no mesmo lugar sem precisar sair de casa". Os tais condomínios "4 em 1" têm sido vendidos com facilidade – o artigo menciona que em 6 meses de anúncio 70% de um empreendimento no bairro do Campo Belo já havia sido vendido. E até 2011 São Paulo ganhará mais 7 conjuntos que unem residência, trabalho, lazer e comércio.

O que parece estar acontecendo é que a nossa sociedade está buscando tais formas de moradia como tentativa de preencher lacunas deixadas pelo Estado que já não dá mais conta de garantir, entre outras coisas, segurança e qualidade de vida aos cidadãos. Decorre daí a busca privada por uma "relativa sensação de segurança", promessa dos condomínios fechados e dos bairros privativos.

Tenho conversado com pessoas que vivem em condomínios fechados e que dizem ter procurado tais locais porque desejavam, principalmente, mais segurança, tranqüilidade e a possibilidade de usufruir do espaço da casa com suas famílias e amigos. A própria forma como se constroem e se organizam os ambientes procura valorizar o convívio, vide as cozinhas e varandas gourmets bem equipadas ou as salas integradas com cozinhas e varandas que são cada vez mais utilizados como argumento de venda dos lançamentos imobiliários.

Isso tudo vem confirmar nosso prognóstico de 2000. CQD.

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