segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pesquisa e inovação – o caso do sapato – abridor de garrafas

Dia desses vi um outdoor que me chamou a atenção pelo inusitado do produto anunciado - um sapato masculino que acumulava a função de abridor de garrafas. Trata-se de um lançamento da fabricante de sapatos Francajel.

O que mais atraiu minha curiosidade como especialista em pesquisa de marketing foi o apelo essencialmente kitsch (1) do produto. Pensando mais sobre aquele objeto inusitado, me surgiram as seguintes questões: Teria sido o sapato abridor concebido como resultado de pesquisas? Será que foram identificadas demandas dos consumidores por um calçado com conteúdo tecnológico (convergência de tecnologias)? Ou simplesmente alguém teve um momento criativo extraordinário, algo como uma epifania (2), que revelou um caminho: o sapato abridor.

A história do marketing está repleta de casos de produtos – alimentos, bebidas, cosméticos, veículos, utensílios domésticos, eletroeletrônicos dentre outros - que não alcançaram o sucesso esperado por seus idealizadores, tiveram um desempenho insatisfatório nas vendas e terminaram retirados do mercado.

Muitos desses produtos nasceram na esteira da inovação. Desenvolver novos produtos para suceder os que já estariam em declínio no ciclo de vida é condição vital para empresas se tornarem competitivas e lucrativas. Mas por que alguns produtos alcançam o sucesso e outros não são aceitos pelo público?

As razões que podem explicar a rejeição de novos produtos podem ser as mais variadas, destacando-se especialmente os relacionados às características tangíveis dos mesmos – sabores, aromas, embalagens, características tecnológicas etc. Existem ainda outros fatores que podem contribuir para que novos produtos sejam preteridos pelos consumidores (3):

  1. Muitos lançamentos são percebidos como tendo atributos e benefícios inferiores a produtos existentes da mesma categoria;
  2. Alguns fracassos são justificados devido a processos de comunicação e difusão ineficazes;
  3. Novidades tendem a ser rejeitadas porque denotam uma tentativa de mudar comportamentos e hábitos de consumo já aprendidos. Produtos novos tendem a influenciar o comportamento das pessoas que o adquirem e o utilizam, exigindo abertura para adoção de inovações e, conseqüentemente, uma reconfiguração de hábitos.

Independente dos motivos para a rejeição parece existir um fato muito comum entre produtos que, digmos, não deram certo. Eles chegaram ao mercado sem terem sido submetidos à apreciação prévia do público a quem se destinavam. Ou seja, não foram devidamente pesquisados, testados junto ao público-alvo. Foram simplesmente... Lançados!

A pesquisa de mercado serve justamente para sondar as possibilidades de aceitação ou rejeição de um produto novo, levantar seus aspectos apreciados e os rejeitados pelo público alvo.

Não sei se o sapato – abridor foi ou não testado. Talvez ele até tenha lá seu público, que esteja buscando este tipo de convergência tecnológica. Em todo caso, ele inspirou essa minha reflexão.

(1) kitsch - termo de origem alemã (verkitschen) utilizado para categorizar um objeto de valor estético distorcido e/ou exagerado. Também utilizado para definir objetos que acumulam múltiplas funções.

(2) Epifania é uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do significado de algo. O termo é usado nos sentidos filosófico e literal para indicar que alguém "encontrou finalmente a última peça do quebra-cabeças e agora consegue ver a imagem completa" do problema.

(3) Ver Engel, Blackwell & Miniard – Comportamento do Consumidor – 8ª. edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S/A, Rio de Janeiro, 1999.

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