segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Publicidade, educação e livre arbítrio

Em 1957 o pesquisador de marketing James Vicary disse ter conseguido persuadir expectadores de um cinema de New Jersey a comprar pipocas e Coca-Cola após apresentar frases de ordem "Tome Coca-Cola" e "Coma pipoca" inseridas entre os quadros do filme. Segundo afirmou na época as vendas e pipoca cresceram 57,8% e as de Coca-Cola 18,1%. Anos mais tarde ele assumiu ter manipulado e mentido sobre os dados.

Mas o que é mais significativo é que Vicary introduziu o conceito de "propaganda subliminar" emprestando às imagens inseridas em um filme um poder de persuasão que excedia a vontade e os limites conscientes do expectador. Em outras palavras, o que ele pretendia era atestar que podia modelar comportamentos e fazer com que consumidores agissem de uma forma teleguiada, independente de seus desejos e princípios.

O experimento de Vicary foi totalmente desacreditado. Mas o mito do poder de mesmerização e controle mental das imagens, incluídos os anúncios publicitários, permanece incólume.

Está se tornando cansativo, repetitivo eu diria atribuir à publicidade e estratégias de marketing o poder de fazer com que os consumidores ajam conforme os desejos do anunciante. E os efeitos dessa persuasão são vistos como extremamente nocivos aos receptores das mensagens, especialmente as crianças.

Pipocam pesquisas afirmando que crianças são vítimas passivas do que a publicidade produz. É claro que crianças são vulneráveis e suscetíveis aos estímulos do ambiente, pois ainda estão em processo de formação da personalidade e de construção de valores morais e padrões de conduta. Mas não acredito ser culpa apenas do anúncio da Barbie o fato de meninas tornarem-se compulsivas e rolarem no chão clamando por uma nova boneca por semana.

Onde estão os pais/ adultos para oferecer parâmetros de conduta, impor limites, simplesmente falar NÃO quando é preciso? Não tenho lido ninguém que se apresente como especialista em comportamento infantil, consumo infantil ou publicidade e marketing enfatizar a importância da educação no ambiente familiar em detrimento da força dos apelos publicitários.

A publicidade pode ter efeitos nocivos, concordo. A produção do setor demanda crítica e relativo controle. Mas os pais, as famílias, os responsáveis pela educação de crianças precisam estar mais bem preparados para lidar com crianças consumidoras. Principalmente preparando as crianças para assistir e lidar com os apelos que lhes chegam de todas as direções, inclusive da publicidade. E isso só acontecerá quando pais/adultos se preocuparem mais em transmitir valores sólidos, principalmente através de exemplos. Não adianta criticar o apelo erótico de um anúncio de sandálias para meninas e depois assistir Big Brother junto com sua filha.

Sempre me lembro de uma afirmação do apresentador Jô Soares quando alguém comentou numa entrevista sobre a baixa qualidade dos programas de TV. Ele disse mias ou menos o seguinte: "existe um aparelhinho chamado controle-remoto. Se você não gostou, desligue ou mude de canal". Concordo com ele. E digo mais, acho que o controle remoto tem ficado em mãos erradas.

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