quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Teoria da difusão de inovações

Em 1962 o sociólogo Everett Rogers publicou sua tese de doutorado (PhD) onde ele havia feito uma extensa revisão de estudos relativos à difusão de inovações, notadamente de inovações tecnológicas no meio agrícola e que também incluía estudos em diferentes áreas, dentre elas marketing. Podemos dizer sem medo de errar que o campo de estudos sobre adoção de inovações e mudanças em geral pode ser entendido antes e depois de Everett Rogers. Ele foi sem dúvida um pesquisador acadêmico com uma rara combinação de gosto pelo trabalho de campo com uma capacidade impar para analisar dados e identificar padrões emergentes.

O estudo inicial de Rogers foi ampliado continuamente por novas e diferentes adições o que foi dando à sua teoria cada vez mais densidade. O livro "Diffusion of Innovations" tornou-se um best-seller desde o início e nas edições subseqüentes (1962, 1971, 1983, 1995 e 2003) o fato mostrou-se inconteste. Atualmente, a teoria de Rogers já é um clássico entre todos aqueles que se dedicam a estudar o fenômeno da difusão de inovações, sua adoção ou rejeição.

A teoria de Rogers destacou que as inovações não se difundem de modo linear pelos diferentes segmentos de uma sociedade ou grupo social (Ver post abaixo sobre o "Slow Movement"). Rogers identificou cinco etapas ao longo das quais uma inovação seria adotada. Além disso, cada etapa também corresponderia a um perfil de reação diante de inovações, são eles:

  • Inovadores (Innovators) - um pequeno e seleto grupo de pessoas que tendem a adotar novas tecnologias e comportamentos em seus primeiros estágios de desenvolvimento mesmo que isso implique em riscos maiores. No segmento de tecnologia de informação eles também são chamados de Beta-Tester (1), pois avaliam softwares e hardwares quando esses ainda estão em fase de desenvolvimento. Normalmente eles também são formadores de opinião e lançadores de tendências para os grupos em que eles são uma referência;
  • Primeiros a adotar (Early Adopters) – constituem um grupo maior que os Inovadores e ainda possuem alguns traços de inovação, embora não tenham a mesma disposição para assumir os riscos associados às inovações em seus estágios preliminares de desenvolvimento;
  • Maioria inicial (Early Majority) – constitui um segmento amplo do público alvo da inovação e é um primeiro sinal de que uma determinada tecnologia ou produto entrou em fase de difusão, isto é ganhou massa crítica. Normalmente, quando o processo de inovação atinge este ponto sua difusão pelo restante da sociedade ou grupo alvo é bem mais fácil. Tanto que interromper o processo de difusão neste estágio é tão custoso quanto o esforço inicial para difundi-la. Imaginem como seria difícil convencer as pessoas a abdicarem da internet, e-mail e banda larga no ponto de difusão em que a tecnologia se encontra;
  • Maioria tardia (Late Majority) – Outro segmento amplo, mas que revela maior resistência às inovações e, portanto, tende a retardar a sua adoção até o ponto em que ela já demonstrou claramente suas vantagens;
  • Retardatários (Laggards) – último segmento a adotar uma inovação, quando ela já se encontra em uma fase madura de implantação e os riscos envolvidos na sua adoção são bem menores;

A teoria de Rogers também identificou que os perfis de adoção de diferentes processos de inovação obedecem a uma curva de distribuição normal, ou uma curva de sino (Bell curve), como podemos notar na figura abaixo (clique na imagem para melhor visualizá-la):

De modo bem pragmático, Rogers identificou cinco fatores críticos que influiriam na difusão de inovações em qualquer segmento:

  1. Vantagem relativa – A probabilidade de adoção cresce na medida em que a inovação apresenta vantagens evidentes em relação ao produto, serviço ou comportamento atual;
  2. Compatibilidade com sistemas e valores – quanto mais a inovação for compatível com a situação preexistente maior a probabilidade de sua adoção;
  3. Complexidade - facilidade da transição – Quanto mais complexa as mudanças envolvidas na inovação diminuem as probabilidade de adoção;
  4. Possibilidade de testar – A possibilidade de experimentar uma inovação antes de se tomar uma decisão definitiva aumenta a probabilidade de sua adoção (ex.: test-drive, amostra grátis etc.);
  5. Visibilidade da mudança e seus benefícios – Quanto mais auto-evidentes as vantagens da inovação maior a probabilidade de sua adoção.

(1) What is a Beta Tester?

6 comentários:

Dedé disse...

Professor Stevanato, Rogers identificou cinco fatores críticos, apenas no item quarto, possibilidade de testar, comenta-se sobre ações de marketing, mas se houver ações bem planejadas pode-se minimizar os fatores crítico e conseguir uma curva mais ascendente dependendo do esforço de comunicação, relevância e campanha de marketing?
Muito obrigada
Andrea Rufino - Aluna de MBA de markeing - Anhembi Morumbi - 1º semestre

Luiz Stevanato disse...

Olá Andréa,
Sua questão é muita importante e coloca em pauta a influência das ações de marketing na difusão de uma inovação. De modo geral, pode-se dizer que ações de marketing podem contribuir na adoção da inovação seja viabilizando-a ou reduzindo o tempo de sua difusão. Entretanto, o próprio Rogers lembra-nos das dificuldades metodológicas de se atribuir relação causal entre uma variável [comunicação] e a adoção.
O fenômeno é complexo e é impossível isolar uma variável.
Luiz
ps - mais sobre isso, em aula

Anônimo disse...

Desculpem a intromissão.
Os estudos de Rogers "provam" que acções de marketing poderiam acelerar a adopção sim, em sistemas heterófilos.
Para sistemas heterófilos a propaganda em larga escala é mais eficaz, enquanto para sistemas sociais homófilos a forma mais eficaz seria através dos "líderes de opinião".
Há muito para dizer sobre esta distinção entre os diferentes sistemas sociais mencionados por Rogers. De qualquer forma, o Professor Stevanato tem razão relativamente a complexidade.
Abraço.
David N. Resende – Aveiro, Portugal

Unknown disse...

Prof. Stevanato,
Indago-lhe sobre a utilidade/aplicabilidade da teoria de Rogers na implantação do Planejamento Estratégico em grupo empresarial cujo Diagnóstico de Traços Culturais – DTC indica as seguintes características(*):
- Natureza da Realidade/Verdade: subjetiva;
- Natureza Humana: ambivalente;
- Homem - Natureza: harmonia;
- Orientação Temporal: passado;
- Atividade Humana: passiva;
- Relacionamentos: linear.
Por óbvio, o diagnóstico preciso pressupõe trabalho in loco, envolvimento de profissionais e a utilização de outras técnicas em universo mais amplo.
Nesse momento, o intuito é testar a aderência da teoria ao caso prático.
Obrigado,
Diego Rodrigues A. Santos / MBA-FIA
(*) – impressões pessoais do formulador da questão após resposta ao questionário.

Unknown disse...

Prof. Stevanato,
Indago-lhe sobre a utilidade/aplicabilidade da teoria de Rogers na implantação do Planejamento Estratégico em grupo empresarial cujo Diagnóstico de Traços Culturais – DTC indica as seguintes características(*):
- Natureza da Realidade/Verdade: subjetiva;
- Natureza Humana: ambivalente;
- Homem - Natureza: harmonia;
- Orientação Temporal: passado;
- Atividade Humana: passiva;
- Relacionamentos: linear.
Por óbvio, o diagnóstico preciso pressupõe trabalho in loco, envolvimento de profissionais e a utilização de outras técnicas em universo mais amplo.
Nesse momento, o intuito é testar a aderência da teoria ao caso prático.
Obrigado,
Diego Rodrigues A. Santos / MBA-FIA
(*) – impressões pessoais do formulador da questão após resposta ao questionário.

Luiz Stevanato disse...

Olá Diego,

Excelente você ter colocado em destaque a questão do ambiente cultural em relação à probabilidade de uma inovação entrar em processo de difusão.
Lembrando que estamos apenas especulando, note que o foco no passado e o pressuposto de que a atividade humana tenda a ser passiva me parece indicar que a ferramenta planejamento terá maiores dificuldades para ser aceita e difundida nesse ambiente.