segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Slow food - Chegou a hora do consumo mais lento?

Olhe com mais atenção o modo como nos comportamos enquanto consumidores. Esse é um tempo marcado por uma busca ansiosa e desmedida da satisfação de necessidades.

Estamos imersos em múltiplas opções para satisfazer desejos. Os apelos são muitos e estão em toda a parte fazendo com que nos tornemos indivíduos e grupos que utilizam o consumo como válvula de escape, atuando permanentemente nossas ansiedades. Uma multiplicidade de estímulos desperta interesse e leva à ânsia imediata e irrefletida de consumi-los. Plena catarse, pura atuação para o alívio de tensões.

Esta é uma época de ação sem contemplação, de consumo sem fruição e os custos disso parecem óbvios para indivíduos e para a sociedade. Pessoas cada vez mais estressadas em busca do que ainda não possuem, descartando com extrema rapidez e quase sem critérios os objetos que, muitas vezes, não foram utilizados ou explorados em todo seu potencial, para substituí-los por novidades. Telefones celulares constituem um bom exemplo para ilustrar essa descartabilidade. Novos aparelhos (agora é a vez dos smartphones), com novas funcionalidades e tecnologias mais recentes são sucessivamente apresentados, desejados, consumidos e dispensados após um uso, muitas vezes, incipiente.

Há ainda questões ambientais como a poluição, decorrente do descarte de produtos obsoletos, assim como a dilapidação dos recursos do planeta que indubitavelmente trarão prejuízo para todo mundo.

Mas o fato é que esse modo de vida está ancorado num modo de produção que demanda consumo para se sustentar. Então cabem perguntas como: seria possível (e viável) viver de um jeito mais simples, despojado? É possível usufruir com mais calma e por mais tempo aquilo que consumimos rompendo com a lógica da produção em larga escala?

Existem alguns grupos que apontam para a necessidade da desaceleração dos ritmos, para uma maior fruição do tempo nas atividades e no consumo de objetos. Vimos surgir nos anos 80 alguns focos de resistência cultural que manifestaram cansaço com o modo de vida "zapper". O assim chamado "Slow Movement" surgiu em 1986 com um protesto contra a abertura de um restaurante da rede McDonald's em Piazza di Spagna em Roma que despertou a criação da Slow Food Organization cujo propósito, grosso modo, é preservar o estilo de cozinhar e de usufruir a culinária, além de preservar culturas e tradições – já conta com 122 países membros.

O "Slow Movement" não prega uma volta ao passado, mas usufruir do mundo moderno num ritmo mais lento que permita explorá-lo ao melhor. Do Slow Food, a proposta se desdobrou em outros movimentos que têm em comum a proposta de desaceleração dos ritmos de produção e da fruição do consumo de forma mais sustentável.

Desdobramentos

Os desdobramentos são vários e já influenciam diversas áreas, ainda que de modo embrionário - Slow Design, Slow Consumption, Slow Travel, Slow Sport, Slow Work etc.

O Slow Travel (www.slowtrav.com), por exemplo, sugere que o viajante permaneça por mais tempo em um só destino, conhecendo de perto a cultura local em vez de ziguezaguear atrás de cartões-postais e de cities-tour preparados por agentes de viagem do tipo "conheça 5 países em 2 dias".

O Slow Design (www.slowdesign.org) propõe que o desenvolvimento de produtos seja mais longo, envolvendo maior dedicação dos profissionais no planejamento, pesquisa, testes de aplicação na vida prática e refinamento dos protótipos, utilizando mão de obra e materiais locais, com o objetivo de preservar culturas e histórias.

Claro que esses movimentos ainda são coisa de nicho de mercado. Portanto, uma tendência que poderá ou não vir a ser adotada por grupos maiores num longo prazo. E, talvez, seu incremento dependa de uma reflexão mais apurada sobre o tipo de futuro que esperamos para nossos descendentes. (Ver post acima sobre a "Teoria da Difusão de Inovações").

O curioso é que a questão parece estar ganhando força pelo aspecto ambiental, como se pode notar em criações cinematográficas como "O dia depois de amanhã" ou ainda na recente refilmagem "O dia em que a Terra parou". Neste último tem lugar um interessante diálogo entre o personagem Professor Barnhard e o extraterrestre Klaatu sobre o destino do planeta e da espécie humana, onde o prof. tenta convencer Klaatu a nos dar mais uma chance e diz: "É quando estamos à beira do precipício que evoluímos!".

Links adicionais

Slow Food Foundation

Long Now foundation

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