terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O marketing da pesquisa de marketing

Uma das características do marketing atual é a ênfase que as empresas dão ao desenvolvimento de novos produtos para atender as demandas dos consumidores e fazer frente aos seus competidores. Não constituí novidade nenhuma que o mercado consumidor adquiriu o gosto pelos sucessivos lançamentos de novidades em prazos cada vez menores. Automóveis, celulares, equipamentos eletrônicos de todo tipo, a moda entre outros mercados impuseram um ritmo de inovação jamais visto. Isto implica dizer que o ciclo de vida dos produtos ficou mais curto. Novos produtos são lançados em rápida sucessão e os anteriores são repaginados e relançados ou, simplesmente, desaparecem das prateleiras.

Se a constatação que segue acima parece obvia demais quando se trata de produtos de consumo, ela apresenta problemas difíceis de lidar quando a mesma lógica é aplicada ao mercado de consultoria em geral e de pesquisa em particular. Isto ocorre, principalmente, por que a metodologia científica não muda segundo as tendências de cores para a próxima estação outono-inverno. Tampouco a presença de um novo dispositivo eletrônico muda a essência do trabalho do pesquisador. O método científico tende a ser conservador. Aliás, é assim até para se construir um corpo de conhecimentos que seja comparável. Se o método mudasse a todo o momento não seria possível comparar resultados de um estudo com outro. Andaríamos em círculos permanentemente.

O exemplo dos softwares desenvolvidos para realizar análise qualitativa é ilustrativo. Sem dúvida eles trouxeram novidades e facilidades para os pesquisadores ao simplificar ou mesmo eliminar algumas tarefas repetitivas (busca, identificação e codificação). Mas foi isso mesmo o que ocorreu. O software elimina tarefas repetitivas, já as tarefas mais complexas que cabem ao pesquisador, tais como: o planejamento da análise, a elaboração de hipóteses explicativas e a redação do relatório permanecem a mesma, além do que o pesquisador precisa aprender a lidar com as características e limitações de um determinado software. O que leva tempo.

Ora, o que estou querendo dizer é que o que está no parágrafo acima não funcionaria como argumento de marketing – persuasivo – em favor da pesquisa. Então como resolver o dilema: Embora pesquisa seja uma valiosa ferramenta, ela não apresenta novidades seqüenciais em quantidade que possam ser utilizadas como argumento de propaganda. É justamente aí que começam a surgir modismos forçados e falsas novidades no mercado de pesquisa em geral.

Temas e práticas tradicionais recebem "nova roupagem", uma simples ferramenta de coleta de dados – um questionário, por exemplo – é patenteado e recebe nomes pomposos – "Behavior drive scan II"- ou coisa do gênero. E a "geringonça" é vendida ao respeitável público como sendo a mais nova e revolucionária "metodologia" de pesquisa, capaz de dissecar a alma do consumidor e revelar as motivações mais profundas do apreciador de chicabom®, ou outro produto qualquer.

Não se trata de ser contra utilizar a propaganda como ferramenta do marketing para a pesquisa de mercado, mas defendo que o seu uso seja mais criterioso, empregue argumentos mais técnicos voltados para o profissional da área de pesquisa das empresas. Idealmente, este profissional deveria ser alguém dotado de conhecimentos suficientes para identificar as soluções de pesquisa mais adequados para os problemas da organização. Além do que, ele não deveria sensibilizar-se com argumentos de vendas nem sempre verdadeiros e muitas vezes mal elaborados. Capicce!

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