quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Um Manual Prático para a Pesquisa Qualitativa


Certa vez, durante um curso de pesquisa qualitativa que fiz no mestrado, o professor nos contou que na sua defesa de tese de doutorado um renomado acadêmico da USP teceu o seguinte comentário: "Seu trabalho tem coisas boas e coisas ruins. As coisas boas não são novas e as novas não são boas". Imagino o terror que meu professor deve ter sentido nesse momento, pois uma das expectativas de quem produz um trabalho acadêmico é buscar ineditismo e avançar, ainda que alguns passos, agregando contribuições ao conhecimento pré-existente.

O fato é que essa frase sempre me surge quando penso no apelo que a novidade exerce diante das tradições. O momento atual enaltece o novo, cobra a mudança constante e exige o descarte imediato do que se considera ultrapassado. Torna-se quase uma obrigação introduzir novidades seja na moda, nos costumes, na política ou na religião. Os modismos nos chegam acelerados em todas as frentes, incluídas aí as áreas de marketing e pesquisa de mercado.

O que é "novo" é visto indubitavelmente como sinônimo de bom - inovação, renovação, superação e progresso. Enquanto que a "tradição" uma encarnação do mal – entrave, regressismo e decadência.

Não estou aqui pregando contra a inovação e a mudança, pois muitas vezes podem ser bem vindas e até necessárias. Sem um pensamento renovador não existiria, por exemplo, o avanço da ciência. Mas, qual o problema de se perpetuar tradições e tornar mais permanente aquilo que tem evidente valor e que funciona? Por que simplesmente descartar ou depreciar a tradição de uma boa teoria em nome de uma prática pretensamente inovadora?

Um clichê comum no meio acadêmico diz que: "A prática sem teoria é cega, teoria sem prática é estéril". Pois bem, a teoria e a prática são interdependentes e o trabalho do pesquisador qualitativo é se empenhar para conciliá-las, equilibrá-las.

É imbuído desse espírito "em favor da conciliação entre a tradição metodológica e práticas inovadoras na pesquisa qualitativa" que indico o texto A Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som – Um Manual Prático de Martin W. Bauer e George Gaskell – Editora Vozes (2002). Um texto imperdível para quem se dedica a pesquisa qualitativa em qualquer frente e, especialmente, para os que as aplicam em comunicação e publicidade.

Os autores apresentam e comentam diferentes técnicas para coleta e análise de dados como imagens (fotos e vídeos), sons e textos escritos. Além das técnicas mais usuais em pesquisa qualitativa - entrevistas individuais e em grupo – discutem a teoria e orientam para a prática da análise semiótica e discursiva.

O ponto alto do livro é a presença constante de uma visão crítica sobre as técnicas e a discussão sobre os cuidados e responsabilidades do pesquisador, o que chamam de "boas práticas de pesquisa", nos oferecendo parâmetros para realizar um trabalho criativo em termos de técnicas de coleta de dados, mas sem perder de vista o rigor metodológico, a preocupação com validade e fidedignidade da pesquisa qualitativa - e que estou chamando de tradição.

Vale abrir um espaço para esse texto na prateleira de sua biblioteca.

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